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12 de dez. de 2016

Coração

Pulse, plote.
Brote uma lembrança
Faça com que o ar
Não lhe sufoque
-
Inspire, assopre
Invente alguma nota
Respire para que a vida
Não se perca nessa sorte
-
Salte e volte
Mova-se pro norte
Finja estar morrendo
Para enganar a morte

..
.

26 de nov. de 2016

Zé e o tempo

Às vezes
Eu deito na cama e fico tentando pensar na vida.
Até onde eu me lembro, nasci aos 12. E devo ter vivido um bom tempo em coma, pois tudo que eu me lembro são alguns flashes da adolescência. Mas nada de quando eu era pequeno.
Desde sempre ouvi histórias de como as pessoas se lembram da sua infância, do que brincavam, o que comiam.. Mas eu, não. Não eu.
Eu queria poder me ver, queria saber olhar pra dentro e ver o Felipe de 10/15/20 anos atras. Encontrar a parte presa no passado que hoje vive apenas em histórias que as fotos podem contar. Mas não, eu não sei.
E é estranho porque tudo o que eu sei é que em algum momento da vida eu fui pequeno, aprendi a andar, correr e até era gordinho segundo dizem.
Por vezes até me parecem momentos que nunca existiram de uma vida que eu não vivi.
E como saber se nem mesmo o meu nome eu sei se é esse?

6 de nov. de 2016

Ninguém

Pessoas passam por você.
Vem e vão.
Indo de um lado pro outro sem qualquer objetivo. Andar, correr, passar o tempo.
Eu estava ali sentado e observava todas elas. Em cada gesto, em cada passo.
As horas voavam e a verdade é que tudo foi se amplificando.
Eu precisava contar.
Mas o fato é que ninguém se importa. As pessoas não estão nem aí pra o que você faz. E a não ser que tenha algo de interesse a oferecer, também não se importarão em saber quem você é.
Ninguém vai te perguntar de onde você veio ou o que te trouxe aqui. No maximo irão proferir algo como "me desculpe" depois de algum esbarrão acidental enquanto estavam mais preocupadas com seus telefones ao invés de prestarem atenção no caminho.
Todos querem se ocupar com o mínimo para procrastinar coisas maiores. Contentar-se com o simples fato de que tudo irá se definir no alinhamento de alguma estrela ou que o futuro se encarregará de moldar seus valores e definir o que unir ou separar.
As pessoas estão cansadas de tomar decisões por  medo das consequências.
Querem dar um nome melhor a vida, ter status e poder com o mínimo de sacrifício. Como presentes. Como algo que se pode dar e tirar quando convir. Para no momento oportuno  dizer que a vida nunca foi fácil mas que no fim valeu a pena porque, no mínimo, é a melhor coisa que podemos nos orgulhar em dizer. Porque a vida pode não ser justa, mas é boa demais para ser desperdiçada.

24 de out. de 2016

Retrato

O melhor dos quadros
À pior das vistas
Essência que inflama
Que fere, que chama.

Ao soar dos sinos,
O rufar dos tambores
É a palavra que cala
Sem horas, senhores

É a Magia que aflora
A vestir-se do avesso
Afogando-se em chamas
Disperso em desejo

Do silêncio ao desperto
A deleitar os olhos
O passado em presente
A fluir pelos poros.

*

17 de out. de 2016

Verso inverso

Ah, se as estrelas pudessem
ouvir o clamor
que vem do seu peito.
Que move e que inflama
no fundo da alma.
São certas lembranças
que tempo revela
suas despedidas
jogadas* no tempo.

Não haverá um outro momento
que te faça sentir
o mesmo de antes
talvez outra vida
n'um tempo distante
destoa da vista
e engana até a mente
o futuro se veste
no verso presente

15 de set. de 2016

Recair

Eu estava firme, estava bem.
Estava livre de ser um refém.
Por dias eu havia esquecido o quanto a dor
Era presente e de como ela sempre foi uma parte de mim.
Eu estava voando para os meus sonhos.
Planando n'um céu azul que ainda desconhecia.
Liberto dos mesmos pecados, seguia um outro ritmo. O anúncio de um tempo de paz.
Me via de longe, gritava, ria. Dançava comigo até a lua se por. Não havia fantasmas.
Eu tinha a tristeza capturada e sob controle,
presa n'um tempo passado que se perdia mais e mais.
Eu tinha um novo nome, um novo rosto. Tinha até um sorriso que por vezes chegou a encantar um outro.
Era uma nova vida, um outro eu.
E numa noite atípica, de uma frase mais fria ao engasgo. Eu vomitei toda tristeza e dor que acumulei durante o tempo em que não era eu.
O aperto, a ansiedade. Eu estava de volta à estaca zero. Os mesmos textos, as mesmas musicas.
Era a volta ao meu mundo, a minha solidão.
Eu tentei resistir. Eu tentei voltar.
Poucos sabem o quanto é difícil cair de algo que já se levantou um dia.
Mais algumas linhas e tudo o que eu queria era uma solução definitiva para os problemas temporários. E até podia.
Mas e as pessoas? As conquistas, os sonhos..?
Por quanto? Até quando?
Tudo o que eu queria era voltar à vida. E esquecer que por mais que eu mude por fora, por dentro eu serei sempre o mesmo cara triste que chora enquanto ri. Tentando enganar os outros dizendo que está tudo bem. Tentando enganar eu mesmo que é só mais um dia ruim.


Setembro, 15

27 de ago. de 2016

Em silencio

Estava eu ainda ali sentado e ausente. Num outro dia, numa outra dimensão.
Os filmes passam pela cabeça, a saudade enche os olhos. Tudo precisa ganhar algum sentido.
Tão perto e tão distante.
Longe do que queria mas tão perto do que temia.
Planos e planos escorrendo pelas brechas entre os dedos enquanto as mãos se apertam, tentando espremer alguma reação que não um sopro de  ansiedade e confusão. Um sorriso se esboça e os olhos tentam encontrar detalhes. Preciso de ar.
O corpo já não obedece, e em descompasso, se contorce e paralisa.
Quero meu mundo, quero ir pra casa.
Dentro de um universo onde já não há espaço que se crie, não há um sonho que não se recrie.
Eu estou vendo aquilo que já não enxergava mais, fugindo de ser o que eu queria.
Tenho frio, sede, desejo.
Paro, penso, prossigo.
Ele vem e escreve, outra vez eu vou embora sem saber.

25 de ago. de 2016

Ainda sobre o amor

O amor é como
o voar ao sol em asas de cera.
É rodar o mundo sem nem sair do lugar.
Eu estou certo de que o amor é como
um manifesto. E o silêncio de um grito que ecoa no vácuo.
É uma chave que abre qualquer porta. E uma porta aberta por qualquer chave.
Estou certo de que o amor é o colorir das coisas sob os olhos. É um sopro de esperança, é a vida, é a dança.
Eu estou certo que o amor é o sair de si para tocar o outro.
É unir dois corpos em um, a fim de que se tornem meio.

24 de ago. de 2016

Os melhores amigos do mundo

Ah, os meus amigos são os melhores!
São daquele tipo que não fazem questão em saber se você precisa de algo;
Aqueles que não se preocupam em perguntar uma coisa qualquer pra puxar um assunto.
Eu tenho os "melhores amigos do mundo" porque eles só falam comigo quando se interessam por algo que eu possa oferecer. E quando eu deixo de ter alguma utilidade, volto para a solitária.
Eles são realmente muito especiais, isso porque valorizam cada momento... Em especial aqueles em que me deixam falando sozinho.
Palavras não me faltam para expressar tamanha gratidão. E não há dinheiro nenhum que compre a emoção em dizer que eu tenho sim, os "melhores amigos do mundo."

16 de jul. de 2016

Oportuno

Tudo o que eles querem é o pouco que você tem.
Dinheiro, status, alegria. O que mais?
A munição que falta é a fé que te sobra.
A luta pelo justo, a esperança de uma morte natural.
Guarde suas lembranças num porta retrato ou em algum copo junto a dentadura.
Do engenho surgem os pastores guiando seu rebanho cego rumo à luz. Perdidos, vendidos.
Estes são pequenos grandes ladrões, de almas, de mentes. Estruturas vazias manipuladas por um único sentimento frio, calculista e aproveitador.
Oportunismo nato!

Saudade

"Saudade" tenho muitas. 
Do que eu tinha, de quem eu era. 
E a verdade refletida nos espelhos se espalha pelos cantos da sala vazia. Onde antes tinham móveis, pessoas e sentimentos, hoje são apenas sombras de um meio dia vago. 
E do todo, nada me resta. Meu egoísmo levou tudo. E nem mesmo ele está aqui, agora. Nem para tomar um café enquanto se diverte vendo as pessoas rirem de como tudo passou tão depressa e eu nem sequer pude notar elas indo embora. 
Só peço para que no fim tudo faça algum sentido. 
E que diante da morte não me falte a certeza de que, ao menos por um momento, a vida valeu a pena. 

10 de jul. de 2016

Desiguais

Somos desiguais: Nas cores, nos timbres, nos gestos. Não importa para onde vai e nem para que, para um sujeito que carrega a bipolaridade, tanto faz. Um tanto faz. E faz com que as coisas mudem repentinamente e por vezes até de forma violenta. Para alguém que rema solitariamente na escuridão não há muita diferença entre cansar e prosseguir. Neste mundo, a verdade é que a mesma se esconde entre sorrisos falsos que ainda assim nós, velhos ranzinzas, evitamos esboçar enquanto aquelas escalas de cinza formam na aurora um alegre degradê. Os dias começam quando deitamos e terminam quando calçamos os chinelos pela manhã. Nada de sonhos. Mudança de planos.
Ele vem, se anuncia e se vai, esquecendo apenas de deixar aquela velha esperança de um dia poder voltar a enxergar a vida nascendo no horizonte, enquanto de chinelos e bermuda regava as plantas na calçada pensando em 'como somos tão desiguais'.

9 de jul. de 2016

Entre as linhas

A minha maior alegria é trazer a alegria ao mundo. Por mais risos, por mais flores, por mais vida entre as cores. Eu sou louco, sim. E que a minha loucura não seja amena, pois de gente comum esse mundo está cheio.

26 de mai. de 2016

Fala

Abrindo a mente ao novo, para que tudo o que se conhece do externo seja trabalhado no interior para dar lugar a um outro estado em um novo 'eu'.
FALA surge da expressão, da troca de conhecimentos que a própria fala possibilita. Da mistura de raízes, das culturas que se criam e se disseminam pelo mundo.
FALA é a recriação da consciência, é a proposta de mudança na batalha entre o velho e o novo. É a luta daquele que não se cansa e não se apropria; é tudo aquilo que se recicla.

15 de mai. de 2016

Mercado humano

A convergência midiática se tornou um verdadeiro mercado humano. Mulheres vendem suas curvas enquanto os homens vendem seus músculos. A cultura disseminada vai ditando os padrões de beleza. Não se ouve mais vozes, apenas silêncio. 
E trancado no mundo por trás de uma tela, em um click ou dois toques, lá estamos nós: Divulgando o produto alheio sem nada para receber em troca. 
Quem sabe a cultura da boa ação? 
Já não se sabe o valor que a integridade moral tem. O seu gosto, e nem mesmo se realmente existe.
Hoje pela manhã acordei com um rapaz que, aos berros, anunciava a promoção dos melões. 
Eu, com muito menos (esforço) vendi uns seis pares de seios. Só não recebi nada em troca. 

Tudo, nada, e todos.

De nada vale o dinheiro se todos aqueles que estão ao seu redor não enxergam o que você é por dentro. 
E somente quando você se desfaz do acúmulo para viver o que julga verdadeiro, percebe que, nos outros, seus sorrisos estão comprados e seu amor corrompido. 
Enquanto, de tudo, um pouco tiver, tudo e todos terá.. Mas ninguém vai querer se lembrar de você quando seus bolsos se esvaziarem. Porque você não passa de uma nota em branco. Um cartão sem limites, sem dono e sem senha. 

31 de mar. de 2016

O maior erro que que cometemos é não dar valor aos momentos e às pessoas neles presentes.
Pode ser mais uma daquelas mensagens clichês pedindo para que larguem os gadgets e valorizem os momentos. A interpretação é livre. Mas verdade seja dita, esta nunca esta será velha demais para que não seja lembrada. 
Podemos ter cores, raças, sexos, profissões, dons diferentes e até fazermos planos para o futuro além de outros. Mas quem sabe se iremos (e quando) realizá-los?
Somos capazes de construir bombas para extinguir a raça humana, de construir no espaço e olha, em breve devemos aterrissar (humanos) em solo marciano. Nós somos capazes de inventar máquinas que rompem a barreira do som,  de construir estruturas inacreditáveis e de superar cada vez mais a nossa própria inteligência. 
Nós somos mesmo incríveis. Tão pequenos, mas tão perigosos. Podemos ter e ser qualquer coisa (em sã consciência), mas não somos capazes de vencer a morte. 
E é por este motivo que precisamos valorizar mais os momentos ao lado  de outras pessoas. Porque elas morrem, nos morremos , tudo morre. Mas não  as lembranças. Estas permanecem vivas em nós e por nós vivem por várias e várias gerações. 
A questão é... Pelo que serei lembrado?
E pelo que serás lembrado? 
Viva mais, agradeça mais. Por mais momentos ao lado de quem se ama. Pois os mortos recebem mais flores que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão. 

9 de fev. de 2016

O Zé

Eu nunca fui realmente bom em alguma coisa.
Nunca fui destaque, estrela, muito menos popular. 
Nunca ganhei uma rifa, uma linha que fosse de um bingo qualquer. 
Eu nunca tive créditos pelo que desenvolvi.
Também nunca liguei muito para o que os outros pensam sobre mim, apesar de saber do que falam e como me julgam. 
Até algum tempo atrás eu não me arrependia de nada que fiz justamente por pensar minuciosamente em cada detalhe. Eu era o tipo do diretor chato, o narrador da própria história. Escrevia linha por linha, achando que podia mudar tudo o que soava distorcido ou fora do tempo. 
Aos olhos parecia certo, confortável. 
Mas em algum momento da história as coisas foram se perdendo. Ou melhor, eu e as coisas além das pessoas. 
Eu vi pessoas virando as costas, vi tantas outras fazendo as malas e mudando-se para o lado oposto sem ao menos ter a chance de dizer 'adeus' ou um tempo para pedir perdão. 
Eu distribui mágoas e criei um monstro chamado solidão. Ou melhor, eu me tornei um monstro criado por ela: Um líder dos corações partidos. 

É como virar um copo vazio à espera de que este tenha algum outro gosto. Esperando por uma mísera gota que não aquelas que caem dos olhos. 
Eu me tornei um palhaço que além dos anos perdeu também o riso, e a alegria que as cores davam à vida. Um espetáculo sem artista, sem plateia. Sem início, meio ou palmas anunciando o fim. 
Eu me tornei um corpo vago, 
apoiado na vontade de me tornar o melhor no que faço. Em busca de uma chance para tentar ser melhor do que fui. Em busca de algo do qual eu possa me orgulhar que não os chutes na trave em pênaltis mal batidos; Os tropeços em cada culpa arremessada à pessoas inocentes ou os pisões em falso nos erros que me levaram cada vez mais longe de quem eu gostava e queria estar próximo. 

Eu sou aquele que dos montes tornou-se um só. 
Uma estrada esburacada por sonhos e oportunidades jogadas fora. Um livro qualquer, sem capa, em branco, escrito por algum Zé.

2 de fev. de 2016

Contos de um Zé

Olha, Zé, não se preocupe. 
Tudo bem se ninguém ligar. 
Se ninguém quiser saber ou simplesmente alguém me pedir pra parar porque sabe que é tudo mentira. Aliás, eu já sei. É sempre assim que acontece. 
Não que eu não me importe, mas a verdade é que eu já perdi a vontade. Eu já não ligo mais para o que os outros pensam e nem o que falam quando eu viro as costas. Uns até são bonzinhos, mas a maioria é tudo traiçoeiro. 
Sabe Zé, nunca na minha vida eu fiz algo pra alguém querendo ter algo em troca. Muito menos pra prejudicar alguém. Tem gente que é tão bom nisso que faz até parecer que é verdade. E é sério, enganam muita gente mesmo. Acho até que fazem sem saber, por nada.
Mas me diz uma coisa, Zé, como será que é querer viver por nada? 
Você não luta por nada, não se esforça, não se cansa.. Parece até uma vida boa, né?
Até que podíamos ter um pouquinho. Embalado  num potinho desses que a gente vê no mercado. O Zé, ... Será que isso vende?
Cê sabe onde encontro isso?

29 de jan. de 2016

Cheio de vácuo

Tudo o que eu sei é que estou vazio, perdido no espaço que se criou em mim. Distante do que era e do que quero ser. 
Sentado pelas ruas, vou viajando pelas ondas que passam e atravessam ruas e casas. Eu estou voando agora. Posso me ver de longe, de cima. Fora de mim as coisas parecem tão diferentes...
E como é bom saber que existem cores e não somente aqueles tons de cinza. E ver esse monte de gente sorrindo e fazendo planos, contando os sonhos uns aos outros, compartilhando alegria.
Sabe Zé, há tempos eu já não sinto mais isso. 
Há tempos eu já não sinto mais nada. 
Nem amor, nem ódio. Nem alegria e nem tristeza. 
Eu nem sei se ainda resta um pouco de esperança aqui dentro. Parece tão distante, tão absurdo. [...]

13 de jan. de 2016

Pleiotropico

Eu ouço vozes. 
Eu vejo, eu sinto as coisas. 
Esboço um louco. Quem sabe um pouco..
Sou eu agora em meio à escuridão
Chorando risos, lustrando riscos. 
Gritando sussurros de esperança,
De Medo e libertação. 
É a dor que não, ah não, 
Essa já não dói mais.
Já não assusta, não assalta,  insulta. 
Me consome, comove e resiste em pulsar. 
De vêia em vêia, de litro em litro.
É o ócio, a essência, é a ânsia. 
É a rústica história do amor pelo ódio. 
Como uma lâmina que atravessa o peito.
Que liberta e floresce jardins
Que derruba as folhas quando traz a chuva. 
Que estremece  a terra e declara 
o fim. 

11 de jan. de 2016

Aurora

Mesmo que o dia acabe,
que as folhas caiam
e as flores morram.

Mesmo que a página vire,
que as palavras sumam
e o livro termine.

Mesmo que a noite chegue,
que a chuva desça
e os rios se encham.

Ainda que o tempo passe,
vejo que nunca muda.
E que jamais alguém
ousará tomar o lugar
que um dia foi, é, e sempre será seu.