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19 de abr. de 2018

Sono

Tenho dormido demais
em uma tentativa pífia de me desligar do mundo.
Para fingir que a vida é um sonho e que tudo acabar-se-á no instante em que eu acordar.
Tenho dormido muito
para driblar a fome que sinto de viver aquilo que eu não posso e chegar onde as mãos já não conseguem alcançar.
Tenho dormido demais!
Para que o riso sincero floresça neste jardim,
e que luz que aponta no fim do túnel não seja mais um trem a me passar por cima.
Tenho dormido
para me libertar da solidão que me acompanha e nunca soube ir embora.
E para fugir dos golpes do homem de preto e sua foice que me observa em seu cavalo.
Tenho dormido demais
para não ter que ver a vida debochar de mim ao jogar na minha cara que fui sempre usado e descartado feito uma roupa velha rasgada.
Tenho dormido demasiadamente
para que as tantas partidas um dia cheguem ao fim, e eu não tenha que sonhar estar dormindo para fingir estar vivendo.

Não mais.

4 de abr. de 2018

Partidas

A cada ano eu coleciono uma nova despedida: Ex colegas, ex amigos, momentos e bens que se vão antes mesmo que eu possa agradecer em tê-los por perto e comigo.
Seja esta, talvez, a maior dor que eu sinto - O desprezo do acaso. A indiferença daqueles que passam por aqui e nunca querem ficar. A incontrolável sensação de vazio consolada por tantas perdas num peito esburacado que raramente consegue sentir algo que não seja solidão. Logo eu que me acostumei a sempre escrever sobre partidas..
Mas então cá me pego novamente a tecer mais essa, que junto a todas as outras é mais uma no monte.
E assim como eu, servir-se-á de morada ao mofo e ao pó, até que o tempo reaja e a tinta se apague.