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28 de fev. de 2017

Nostalgia

Ela veio de longe
e não quer saber
se não puder voltar

Tem em suas mãos o poder
mas já não sabe usar

Luta contra,
não dá conta da dor
explode em seu lugar

Sobe e desce,
desaparece daqui.
Esconda o seu pulsar

Noite a dentro
em silêncio
se despede
Logo a conta já vem
pra então partir.

11 de fev. de 2017

Desejos

Como poderia
ver o azul do céu em meu dia
sempre em tons de cinza?
Vou me transportar para alguém.
Viver à moda antiga,
sem me preocupar com o que vem.
Ser o meu próprio guia
e não me disfarçar de ninguém.

Eu desejaria
uma vida com emoção.
E um brinde a cada dia
sem motivo, luta ou razão.
Soar uma cantiga
e adormecer ao sol da manhã.
Sonhando às escondidas
para não me despedir de ninguém.

Tempo

Queria poder ter tempo
Tempo para poder ter.
Ter para que sobre tempo
Para que possa ter poder

Tem tempo que tem poder
E poder que não tem tempo
Que a tempo eu arrume tempo
de ganhar tempo e poder 'ter'.

Enésimo dia

[...]
Este é o enésimo dia desde o início e exceto pelo fato de sermos iguais, já não somos os mesmos. E nem mesmo tudo o que dissemos está da mesma forma agora.
Iguais em diferenças, sempre fomos, sempre estivemos.
Me lembro de ouvir um certa vez que alguém que te magoa uma vez tem no mínimo 80% de chance de fazê-lo novamente.
Números são atrativos e apesar de serem bons para os negócios, para nós são meramente ilustrativos ou comparativos. Retratam a divergência, a diferença entre um e outro. Quem tem mais ou quem perde menos. E independentemente de onde estejam, nunca serão algo maior do que peças decorativas na vida de alguém. Assim somos nós também: contáveis, descartáveis como os números. Um número é bom enquanto nos satisfaz antes de perder a validade. E independente da qualidade, a quantidade sempre será mais atrativa. Ter um ou zero pode ser ruim. Mas se colocarmos um ao lado do outro teremos dez. Ou se temos um seis e olharmos de ponta cabeça temos um nove e então tudo será apenas uma questão de perspectiva. [...]

Despedidas

É ruim perder alguém que se gosta
ou algo que se lutou muito para conquistar.
Ninguém gosta de despedidas. Ninguém gosta de deixar o que ama mesmo que seja preciso.
Quando você olha ao redor e percebe o quanto o mundo está diferente. As perspectivas, a realidade.
Às vezes corremos na direção contrária só para tentar consertar algo que não podemos.
Repensar em uma maneira de evitar o inevitável.
Passamos a vida inteira querendo voltar no tempo. Ainda que por um instante para reviver um momento que seja.
E lamentamos tanto por não sermos capazes de aceitar a forma como as coisas estão.
Estamos sempre querendo mudar tudo e todos, o que me leva a crer
que a 'felicidade' é um estado consciente da satisfação.
Estamos bem, estamos felizes até que algo saia do lugar.
Não que seja ruim. Nem sempre é pior.
Mas nunca está bom. Nada está bom.
Talvez essa seja a graça da vida:
Perder para ganhar, morrer para viver.

Metades

Apesar da minha estranha timidez
nunca fui de meias palavras.
Sempre fui de falar muito.
Mesmo que do meu jeito, no meu tempo.
Das muitas coisas do passado, uma das das poucas que me recordo
é o quanto agradecia quando as redações não tinham limite de linhas.
Independente da história as minhas sempre viravam a folha.
O fato de odiar quando davam meio pão com salsisha na escola e o quanto me incomodava deixar uma questão pela metade na prova..
Talvez por isso eu nunca tenha gostado de relógios: As horas são inteiras apenas por um minuto.
Não consigo deixar nada inacabado ou malfeito.
Eu não sei pensar pouco. Não consigo olhar menos ou tocar pela metade.
Eu tenho que estar atento a tudo. Tudo me atrai, tudo me interessa.
Ah, se eu pudesse descrever o quanto eu odeio essas malditas metades..
Meias pessoas, meias saudades, meias verdades.
Eu mesmo prefiro andar descalço à estar de meias.
Porque eu não sei gostar um pouco
ou dizer meias palavras.
Eu não sei amar pela metade.
Sou um cara de excessos. Tudo pra mim é em excesso.

Porque eu não consigo me contentar com nada que seja raso.

Vinte e cinco

Estes são os meus vinte e cinco: Um terço de vida útil desperdiçada.
Tantas são as histórias..
Conheci muitas pessoas: Umas inesquecíveis. Outras eu apenas queria apagar..
E quantas foram as despedidas. Ah, esse número eu já não sei contar.
Tantas foram as vezes em que eu vi as pessoas indo embora e eu não soube o que fazer.
Tantas foram as lamentações, os arrependimentos.
Alegrias eu tive também..
Mas se pudesse resumir em uma frase eu diria que
'são 25 anos de acúmulo de decepções e escolhas erradas'.
Em todo esse tempo, muitos foram os amores. Quase sua totalidade não correspondidos.
Mas sempre acostumado a rir ao lembrar do quão comum
me parecia o fato de ser alguem que ama só.
E tantas foram as vezes em que usei outras pessoas para me manter afastado de quem eu amava mas já não estava mais ali.
Usei e fui usado - Descartado como uma roupa velha manchada.
Ah, e se eu pudesse contar quantas foram as vezes em que eu quis voltar no tempo só pra
reviver um momento.. Dizer o que não disse, fazer o que não fiz.

Quantas são as saudades..
Os detalhes e as mensagens nas linhas em branco de cada carta que escrevi.
Cartas essas que guardo (todas) e leio sempre.
Quanto eu quis mudar.. Em mim, nos outros. E quanto o pessimismo sempre me atrapalhou também.
Eu deixei empregos, pessoas, momentos. Todos presos num tempo que só eu sei o quanto doi lembrar.
Já não sei quantas foram as vezes em que os olhos se encheram nas madrugadas em claro
e com o peito apertado, uma tosse eu culpava.
As vezes em que eu tive medo e criava amigos para esquecer o quanto a solidão sempre foi presente.
E quantos foram os copos que virei em busca de redenção.
Buscando em outras coisas uma cura permanente para os problemas temporários.
Fazendo do silêncio a única saída, o único refúgio.
Quantas vezes me tranquei na imensidão do meu quarto implorando para que as coisas mudassem. Torcendo para que fosse importante para alguém. Rezando para que tudo ficasse bem..

A realidade por tras dos meus vinte e cinco
é que de todos esses anos, nenhum deles valeu a pena.
Eu não fiz nada, não fui ninguém.
Não deixei nada além de uma centena de notas tristes.
Desses vinte e cinco todos sempre foram vazios
assim como eu: sem cor e sem vida.

6 de fev. de 2017

Manhã incolor

Vi em cada lugarejo que passei
de todas despedidas que adiei
a sua foi a unica que eu quis

Teu sorriso me cantava de manhã
E quando as horas passam, é amanhã
a hora de se despedir chegou
Mas veja só

Quantas voltas este mundo dá
Todas as historias pra contar
quem estava viu e ninguém contou

Mas quem sabe o tempo volta
a ser o mesmo que passou
e ninguém pensou
que iria ser o fim

Quantas vidas se desprendem
do corpo em vão?
Quantas delas são pedidas
de irmão pra irmão?