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17 de jan. de 2015

É mentira, Zé!

Olha que tarde. Faz um calor danado aqui hoje.
Eu estou disfarçado de 'eu' e ainda esta funcionando. (eles estão acreditando).
Sabe, Zé, eu ainda estou tentando comprovar a 'mentira involuntária' que transportamos durante o dia, quando franzimos a testa para enxergar.
Muitos não conseguem fazer isso sem esboçar um sorriso. E ai os outros passam e acham que elas estão felizes.
Mas a noite, não. Ah, as noites..
A noite as pupilas dilatam e revelam a cor e o brilho dos olhos.
Será que é por isso que a noite temos mais expressão?
Então as pessoas se julgam por nada, Zé?
Será que a minha teoria esta errada?
Não deixa ninguém descobrir não, Zé. Podem achar que eu estou ficando louco.

E agora, Zé?

Já é madrugada.
E outra noite linda como se pode ver.
Eu tenho pensado em centenas de palavras e mais algumas outras que pudessem expressar este momento.
Eu tirei a minha capa e tentei dormir um pouco. Não consegui, dai então eu vim aqui fora apreciar a beleza do céu.
Está amanhecendo, Zé.
Parece que vai ser um dia bonito lá fora.
Mas e aqui dentro?
Logo será de manhã e eu não sei se lamento por um dia a menos ou se vibro por um dia a mais.
Isso tudo está se tornando um fardo e eu tenho medo de não aguentar.
Eu não quero mais ter de vestir máscaras pela manhã. Sabe Zé, uma hora a gente cansa de vender sorrisos. E sabe por que? Porque ninguém mais compra. A gente passa o dia todo sorrindo e fingindo ser o que não somos e a noite é igual. Porque os problemas não desaparecem. Eles somam e vão ficando cada vez mais difíceis.

Sabe, Zé, quando eu deito a noite eu confesso tudo pra mim mesmo. Me surpreendo quando descubro que tem coisas que eu escondo de mim. Os outros? Ah, eles sempre me esconderam. E são sempre 'os outros' não é mesmo?
Mas eu estou mesmo preocupado comigo, Zé.
Acho que acabei fazendo algo que não deveria.
Você promete que não vai me julgar?
Bem, talvez eu deveria. Era noite e eu estava sem máscara.
Mas o problema é que todo mundo viu, e você sabe, eu não consigo esconder coisas.
As vezes eu queria aprender a mentir viu, Zé.
Que bobagem.
Mas e omitir, eu posso? Talvez assim eu consiga me enganar. Quem sabe?
Eu só não quero voltar a vestir aquelas máscaras daqui a pouco.
Eu não sei mentir, eu não sei fingir, Zé.

"O outro"

Esta noite está divertida. Mas não é isso que mandam a gente fazer?
Quando a gente chora e escreve aquele monte de palavras perdidas e profundas. Quando a gente se apaixona e enche o saco dos amigos com aquela melação toda.
Não fica todo mundo dizendo pra gente parar de tanto drama e se divertir?
Estou apenas obedecendo todo mundo. Não é isso que chamam de "super divertido"?
Beber e fumar, dançar e chegar tarde em casa. As vezes, nem chegar em casa, apenas envelhecer e não sentir nada!
Sabe Zé, no começo doeu "não sentir nada". Mas eu consegui. Hoje eu não sinto nada. Nada. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era bela e admirável, Zé. Mas ninguém a entendia, ninguém a acolhia. Todo mundo só abusava dela.
Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não a possuo mais. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto, não é? Posso me considerar um super-heroi por isso?
Bate aqui no meu peito, Zé. Ouça o barulho, sinta a brisa, como as ondas quebrando nas pedras.
Hoje tem risada alta, tem festa, tem música.
O senhor promete não me julgar, Zé? Eu sei que você se atrapalha, liga aqui pra cima e fica até mudo. São tantos nomes, não é? Mas é só fazer que nem eu: chama todo mundo de "o outro". Todos são "os outros". Porque os de verdade, Zé, os de verdade nunca estão por aqui.
A gente senta, pensa e risca algumas frases num papel.E no outro dia, a gente acorda e vê que tudo está diferente, os outros foram embora e levaram tudo!
Mas ainda amanhã é um novo dia. Um novo "outro" qualquer. Eu queria te dizer que eu sinto muito, Zé. Mas eu não posso te dizer isso porque a verdade é que eu não sinto mais nada.
Nadinha, Zé!