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17 de jan. de 2015

"O outro"

Esta noite está divertida. Mas não é isso que mandam a gente fazer?
Quando a gente chora e escreve aquele monte de palavras perdidas e profundas. Quando a gente se apaixona e enche o saco dos amigos com aquela melação toda.
Não fica todo mundo dizendo pra gente parar de tanto drama e se divertir?
Estou apenas obedecendo todo mundo. Não é isso que chamam de "super divertido"?
Beber e fumar, dançar e chegar tarde em casa. As vezes, nem chegar em casa, apenas envelhecer e não sentir nada!
Sabe Zé, no começo doeu "não sentir nada". Mas eu consegui. Hoje eu não sinto nada. Nada. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era bela e admirável, Zé. Mas ninguém a entendia, ninguém a acolhia. Todo mundo só abusava dela.
Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não a possuo mais. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto, não é? Posso me considerar um super-heroi por isso?
Bate aqui no meu peito, Zé. Ouça o barulho, sinta a brisa, como as ondas quebrando nas pedras.
Hoje tem risada alta, tem festa, tem música.
O senhor promete não me julgar, Zé? Eu sei que você se atrapalha, liga aqui pra cima e fica até mudo. São tantos nomes, não é? Mas é só fazer que nem eu: chama todo mundo de "o outro". Todos são "os outros". Porque os de verdade, Zé, os de verdade nunca estão por aqui.
A gente senta, pensa e risca algumas frases num papel.E no outro dia, a gente acorda e vê que tudo está diferente, os outros foram embora e levaram tudo!
Mas ainda amanhã é um novo dia. Um novo "outro" qualquer. Eu queria te dizer que eu sinto muito, Zé. Mas eu não posso te dizer isso porque a verdade é que eu não sinto mais nada.
Nadinha, Zé!

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